O casamento por amor falhou?
(Pascal Bruckner)
No Ocidente, o casamento está em crise: aumentam os divórcios, mais e mais pessoas optam por viver sozinhas e, regra geral, as famílias são monoparentais. Mas qual é a razão? A este respeito Pascal Bruckner tem uma opinião bem precisa: não será de facto o amor, eleito como ideal absoluto e totalizante, e comercializado como modelo máximo de realização pessoal, a minar desde dentro a estabilidade do casal? Na segunda metade do século XIX o casamento passou por uma grande transformação, de instituição burguesa que condenava as paixões e privilegiava os interesses das famílias tornou-se um símbolo de emancipação dos afectos, que devem ser colocados acima de tudo. Não se casa mais por cálculo ou porque a família o impões, mas "simplesmente" porque se está inamorado e se pode escolher com plena autonomia a pessoa com quem se quer passar o resto da vida. Conquistada com preço alto, esta liberdade, no entanto, não trouxe mais harmonia, mas mais discórdia entre o casal, porque o amor idealizado acaba rapidamente por colocar-nos diante dos nossos limites e dos limites dos outros. Daí a tese provocativa e politicamente incorrecta de Bruckner: Estamos certos de que o casamento tão vituperado de conveniência não deva ser re-avaliado? Que uma união em que a racionalidade tenha um papel mais importante do que sentimentos seja realmente de desprezar? Talvez este seja o caminho: encontrar um equilíbrio entre gratificação pessoal e respeito pelo outro, entre acolhimento e paixão, tentar superar com a razão os limites do amor, para torná-lo menos volúbel e mais resistente às dificuldades que são uma parte inevitável da vida de cada casal. Pascal Bruckner é filósofo, romancista e polemista. Entre os seus lembro: A tentação da inocência (Prix Médicis para obras de não-ficção de 1995) e Euforia Perpétua (2001).
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