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Caleidoscópio 2
(Cassiano Ribeiro Santos)

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Os dois fragmentos abaixo são peças de um livro virtual que pode ser montado com o concurso de muitos outros deste autor publicados neste site. À sensibilidade e benevolência do leitor em unir as partes adequadas será creditado qualquer mérito literário!
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NOSTALGIA - É comum, a homens ociosos como eu, terem intermitentes recordações, voluntárias ou não, de cenas do seu passado inolvidável. Assim foi que, em uma dessas tardes ordinárias, encontrei-me a recordar a minha cidade natal, certas esquinas e uma certa habitante sua que marcou profundamente o sulco melancólico das minhas paixões. Uma nostalgia pungente envolvia-me como uma bolha de sabão, atenuando as estridentes buzinas e o choque com os apressados transeuntes. Ocorreu-me, não sei por que, considerar a rua onde estava, e que já me acolhia pôr longos anos em um estado de morna felicidade, como algo passageiro e pensei no dia em que talvez viesse a recordar esse momento presente, esta rua, com a mesma saudade que sentia então pelo remoto passado. Invadiu-me uma breve e estranha sensação de estar vivendo no pretérito que o momento presente se tornara em relação a tal pensamento. A nostalgia deslocou-se para o futuro em que eu viria a sentir saudades do momento atual. Esta sensação tão singular deixou-me a suspeita de ser a nostalgia uma intuição de um tempo acronológico. Podemos ser apaixonados por uma época antiga quando nem éramos ainda nascidos, imitar os modismos e os costumes desta época e, se supersticiosos, falar em reencarnações; podemos nos apaixonar pela ficção-científica e passar longas horas suspirando pelos épicos de um futuro inatingível. O pensamento é capaz de considerar as coisas sob uma espécie de eternidade e a nostalgia pode ser uma afecção dessa maneira de pensar. Um filósofo grego dizia que a nossa alma aspira a um mundo ideal situado em um remoto e solene passado e esta aspiração conferia ao filósofo um ar nostálgico e melancólico. Seu antípoda, Fredrich Nietzsche, esperava com ardor um porvir onde a vida se libertasse de todas as suas doenças históricas (que esse porvir não seja ainda o momento atual em que vivemos se explica talvez por ser ele tão essencialmente futuro quanto era essencialmente passado o tempo perfeito de Platão). Podemos definir a nostalgia como um afeto negativo, a privação do corpo em não poder habitar o tempo dos nossos pensamentos e nisto é que ela se difere de uma simples saudade: sentimos saudades de acontecimentos e coisas passadas que, quando presentes, encheram de júbilo nossas almas. A nostalgia não se refere a privação de coisas presentes ou passadas, ela é a intuição do tempo em sua forma pura, acronológica, ou, para usarmos de termos mais antigos, ela é uma sublime experiência da eternidade, sendo sublime todo o pressentimento de grandezas, potências e disformidades incontidas em nossa alma!


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ALMA DE SAMURAI - No antigo Japão medieval, no período do ?shogunato?( séculos XlV - XVl ), três batedores de um exército em campanha trilhavam o alto de uma colina à procura do acampamento inimigo quando foram surpreendidos pelo clamor de uma batalha. Voltaram-se e viram na distante planície os seus companheiros surpreendidos pelo numeroso exército inimigo. Os três batedores partiram em desesperada velocidade e, percebendo que não chegariam a tempo de participar da sangrenta batalha, sacaram de suas providenciais espadas. Com elas abriram as entranhas morrendo todos em questão de segundos. Não suicidaram-se por desespero, como um moderno ocidental poderia julgar. Segundo as crenças e a ética dos samurais eles se mataram porque, se o corpo vagaroso não chegaria a tempo, o espírito desencarnado poderia voar até o campo de batalha, enfrentar o inimigo e exortar o ânimo dos seus camaradas. O anônimo cronista deste episódio acrescenta que, logo após o suicídio dos batedores samurais, um frêmito de entusiasmo percorreu como uma onda o exército acossado que, apesar da inferioridade numérica, escreveu com o sangue do invasor sobre a neve branca, o destino daquela batalha.

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