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A Tragica Peça De Nelson Rodrigues - A Falecida
(Rita Dias)

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 Tragédia carioca, foi considerada um marco na obra de Nelson Rodrigues.
A Falecida conta a história de uma mulher frustrada do subúrbio carioca, a tuberculosa Zulmira, que não vê mais expectativas na vida. Pobre e doente, sua única ambição é um enterro luxuoso. Quer se vingar da sociedade abastada e, principalmente de Glorinha, sua prima e vizinha que não lhe cumprimenta mais. Zulmira tem uma relação de competição com a prima, chegando até mesmo a ficar feliz quando sabe que a seriedade da prima provém de um seio arrancado pelo câncer. O marido, Tuninho, está desempregado e gasta as sobras da indenização jogando sinuca e discutindo futebol. Um pouco antes da hemoptise fatal, Zulmira manda Tuninho procurar o milionário Pimentel para que pague o enterro de 35 mil contos (o sepultamente normal, na época, não chegava a um conto!). Zulmira não dá maiores explicações nem diz como conhece o empresário milionário. Pede apenas para que o marido se apresente como seu primo. Tuninho vai até a mansão de Pimentel e acaba descobrindo que ele e Zulmira foram amantes. Toma-lhe o dinheiro e, depois de ameaçar contar tudo a um jornal inimigo de Pimentel, consegue lhe arrancar mais ainda, supostamente para a missa de sétimo dia. Tuninho dá um enterro "de cachorro" à Zulmira e aposta o dinheiro todo num jogo do Vasco no Maracanã.
  Os personagens, os incidentes, a história, tudo parece exprimir um pessimismo surdo e vital. Foi a primeira de muitas peças onde Nelson Rodrigues colocou suburbanos frustrados e fracassados como protagonistas. Suas tragédias cariocas são mais simples que suas peças míticas, não há tantos símbolos e poesia. Em contrapartida, foi graças a elas que o brasileiro pôde se reconhecer no palco. As personagens conversam sobre temas triviais, comentam assuntos populares e usam muitas gírias. Nelson Rodrigues usou em A Falecida expressões como "a polícia não é sopa", "pintar o sete", "pernas de pau", "descascando a lenha", "cabeça inchada", "é batata!", etc. Tem espaço até mesmo para as abreviações da linguagem falada, como "té logo!", e estrangeirismos, como "all right" e "bye, bye". A ironia e o deboche são as características mais marcantes em A Falecida. A visão do autor é extremamente pessimista, como se no final tudo sempre estivesse predestinado a dar errado. A cartomante consultada por Zulmira numa das primeiras cenas perde o sotaque afrancesado assim que recebe o dinheiro. O filho da cartomante passa toda a consulta com o dedo no nariz, plantado ao lado da mãe. O médico, cujo nome é Borborema, diz que Zulmira não tem tuberculose, é apenas uma gripe. Aliás, nenhum médico consultado pela protagonista lhe deu o diagnóstico certo. Determinada hora, Tuninho é mandado embora do jogo de sinuca por uma dor de barriga violenta. Assim que chega em casa, corre para o banheiro, mas está ocupado por Zulmira. Uma cena antológica acontece quando Tuninho consegue sentar no vaso e, com a mão no queixo, simula a atitude de O Pensador, escultura de Rodin. Para conseguir mostrar com mais profundidade a realidade dura do subúrbio, Nelson Rodrigues apela para o vulgar e o grotesco. Belos cavalos de enterros chiques são odiados porque soltam fezes pelo caminho. A mãe de Zulmira fica sabendo da morte da filha enquanto "coça as pernas cabeludas". A prima da protagonista, Glorinha, é loira, mas oxigenada. Foge da praia não por timidez do maiô, como acreditava Zulmira, mas sim porque o câncer lhe extirpou um dos seios. Zulmira, por sua vez, tinha um cheirinho de suor que agradava o amante. O ódio que Zulmira sente do marido vem desde a lua de mel, quando ele lavou as mãos depois do ato sexual.



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