A Adolescência
(Caligaris, Contardo)
Um adolescente Um pouco sem rumo, estranhando seu próprio comportamento, paradoxalmente desafiador e arrependido para e fala: ?Estou só passando por uma fase agora?. Não é uma fase, nada garante que passe. A adolescência (uma das formações culturais mais poderosas de nossa época) é um mito inventado no começo do século 20, que vingou sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial. Os jovens de hoje chegaram à adolescência numa época que alimenta uma espécie de culto desse tempo da vida, afetando a todos.A adolescência como moratóriaHá um sujeito capaz, instruído e treinado por mil caminhos ? pela escola, pelos pais, pela mídia ? para adotar os ideais da comunidade. Ele se torna um adolescente quando, apesar de seu corpo e de seu espírito estarem prontos para a competição, não é reconhecido como adulto. Aprende que por volta de mais dez anos, ficará sob a tutela dos adultos, preparando-se para o sexo, o amor e o trabalho, sem produzir, ganhar ou amar; ou estão produzindo, ganhando e amando, só que marginalmente. O tempo de suspensão é a adolescência ? fenômeno novo ? quase que especificamente contemporâneo.A adolescência como reação e rebeldiaA modernidade promove o ideal de independência. Pretende-se que apesar da maturação do corpo, ao dito adolescente faltaria maturidade. A adolescência idealizadaA adolescência é misteriosamente idealizada pelos adultos, um tempo de transição, cuja duração é misteriosa. O adolescente vive um paradoxo: ele é frustrado pela moratória imposta, e, ao mesmo tempo, a idealização social da adolescência lhe ordena que seja feliz.Duração da adolescênciaA puberdade é a marca que permite calcular o começo da adolescência. O problema então não é: ?Quando começa a adolescência?? Para que fosse possível uma iniciação à vida adulta, seria necessário que se soubesse o que define um homem ou uma mulher adultos. Essa definição, na cultura moderna ocidental fica em aberto. A moratória da adolescência é o fruto dessa indefinição.InsegurançaEntre a criança que se foi e o adulto que ainda não chega, o espelho do adolescente é frequentemente vazio. Podemos entender então como essa época da vida possa ser campeã em fragilidade de auto-estima, depressão e tentativas de suicídio.Interpretar os adultosO adolescente se lança numa interrogação que durará o tempo de sua adolescência. O adolescente é levado pelos anseios dos adultos e atua em conseqüência. A cultura popular idealiza a própria adolescência rebelde. A adolescência é uma imagem, ou uma série de imagens que podem estar entre o sonho, o pesadelo e o espantalho, que muito pesa sobre a vida dos adolescentes. São chaves de acesso à adolescência. Destacam-se cinco abaixo.1) O adolescente gregárioDescobrindo que a nova imagem projetada por seu corpo não lhe vale, procura novas condições sociais. O adolescente se afasta dos adultos e cria, inventa e integra microssociedades que vão desde grupo de amigos, o grupo de estilos, até a gangue. 2) O adolescente delinqüenteO adolescente é rejeitado pela sociedade dos adultos. A rebeldia parece ser um caminho que o próprio adulto aponta para o adolescente, que tenta impor pela força, ou mesmo pela violência, o que aparentemente não é ouvido. 3) O adolescente toxicômanoA droga, diferente dos outros objetos apaga o desejo, o que na modernidade é essencial, pois atrás de cada objeto desejado, sempre há um desejo de algo mais, transgredindo assim, as regras essenciais do funcionamento do desejo moderno e escapando à moratória para entrar de vez em outro mundo. 4) O adolescente que se enfeiaO conjunto das transgressões estéticas que parecem assinalar e prometer transgressões sexuais ou morais são esforços para encontrar algum conforto no olhar indignado ou assustado dos adultos.5) O adolescente barulhento. O adolescente oscila entre estourar as caixas de som e viver de fone de ouvido. O recado é claro: ou te ensurdeço ou não te ouço. Em todas as suas tentativas de desafiar e provocar, o adolescente encontra uma dificuldade ? acaba por descobrir que sua rebeldia não pára de alimentar os ideais sociais dos adultos. A adolescência, por ser um ideal dos adultos, se torna um fantástico argumento promocional. Mas será que a adolescência não veio a existir para o uso da contemplação preocupada, mas complacente, dos adultos? Adultos famintos de modelos estéticos de juventude, liberdade e rebeldia. Da invenção da infância à época da adolescênciaNuma cultura individualista, espera-se de antemão que qualquer sujeito invente um destino contra o que a tradição e o berço onde nasceu lhe reservaram. A infância preenche a função cultural essencial de tornar a modernidade suportável. Quanto mais a infância é encarregada de preparar o futuro, mais força a invenção da adolescência, que é um derivado contemporâneo da infância moderna.A época da adolescênciaO adolescente é um ideal identificatório, os adultos podem querer ser adolescentes que são adultos de férias, sem lei. A adolescência se torna assim um ideal de adultos. Na situação em que a adolescência é um ideal para todas as idades e global ? a adolescente se torna um ideal para si mesmo. Crescer, se tornar adulto, não significaria nenhuma promoção. Por que desejar se tornar adulto quando os adultos querem ser adolescentes? E por que desejar o reconhecimento dos adultos, se na verdade são estes que parecem pedir que os adolescentes os reconheçam como pares? Moral da história: o dever dos jovens é envelhecer. Mas o que acontece quando a aspiração dos adultos é manifestadamente a de rejuvenescer?
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