O Ser De Deus
(Aquino, Tomás)
São Tomás de Aquino começa por estabelecer que as diversas opiniões segundo a qual afirmam que não se pode demonstrar que Deus é, por ser evidente por si mesmo, foram originadas segundo um ?costume?, e um hábito desde sempre enraizado no homem. Porém, antes de se considerar se a existência Deus é uma verdade de evidência imediata, é necessário operar uma distinção entre ?o que é simplesmente evidente por si mesmo, e o que é evidente quanto a nós?. Desta forma, uma proposição é evidente quando o predicado está incluído no sujeito. A proposição ?o homem é animal?, é evidente em si mesma e para nós, porque o predicado ?animal? está incluído no conceito de homem. Assim sendo, uma proposição é evidente em si mesma e para nós, quando se conhece a natureza do sujeito e a natureza do predicado.Por outro lado, quando não se conhece a natureza do sujeito e a de predicado numa proposição, é uma proposição evidente em si mesma, mas não em relação a nós. A proposição ?Deus é, com efeito, é simplesmente por si mesmo evidente, pois que aquilo que Deus é, também é o seu ser. Mas porque não podemos mentalmente conceber aquilo mesmo que Deus é, ele permanece desconhecido para nós.? O homem desconhece a natureza divina, ela não é evidente em relação a nós.A opinião dos que afirmam não ser possível demonstrar que Deus é, em que indicam que tal somente é possível mediante a fé e a revelação, têm como fundamento a questão da identidade entre a sua essência e o seu ser, ou seja, entre aquilo que corresponde a o que é, e aquilo que responde à pergunta se é. Se racionalmente não se pode chegar a saber de Deus o que é, então se conclui que também não se pode demonstrar de Deus se é. Tal como Tomás de Aquino indica: ??se o principio da demonstração do se é, deve supor a demonstração do nome, visto que o conceito expresso pelo nome é a definição, então, nenhuma via estará aberta para demonstrar-se que Deus é, estando excluído o conhecimento da sua essência?. Não se deve sentenciar o facto de que em Deus identificam-se essência e ser. Esta identificação pressupõe que ele subsiste em si mesmo. Porém, não sabemos a sua essência. Mas através do Ser, pode-se tornar demonstrável que Deus é, ou que é possível alcançar a sua essência, através de dois tipos de demonstração:A) A demonstração que se baseia na causa, em que parte do que é anterior (a causa), para o que é posterior (consequência, efeito);B) A demonstração que parte do efeito para conhecer a causa. Desta forma, através do efeito acabamos por conhecer a causa, pois o efeito depende da causa, e é, de algum modo, semelhante a ela. Então, embora a existência de Deus não seja evidente para nós, ela é demonstrável pelos efeitos que dela conhecemos. ?Deve-se tomar o efeito como termo médio da demonstração, o que acontece nas demonstrações quia e, assim, recebe-se do efeito o significado deste nome deus.?Como ignoramos por completo a sua essência, chegamos ao conhecimento do seu ser, não por meio dele, mas por meio dos seus efeitos.Tomás de Aquino sustenta que Deus é cognoscível unicamente por demonstração, e a demonstração é sólida e racional, portanto, não recorre a argumentações a priori, mas a posteriori, partindo da experiência. A existência de Deus é uma verdade evidente nas coisas materiais que se desenrolam e se reproduzem segundo uma determinada ordem fixa, rígida. E a ordem não poderia existir sem uma inteligência ordenadora, um ser superior e coordenador da natureza. Neste sentido, o primeiro passo que a razão tem de dar é demonstrar que as coisas existem na condição de efeitos; que o que se move é movido por outro; que uma causa subordinada é movida por outra superior; que o ser contigente é causado por um ser necessário; e que uma perfeição que participa em graus diferentes é causada pela mesma existente no máximo grau; um ser não cognoscitivo, que age para um fim, é causado, movido e dirigido por uma inteligência. Uma vez assegurado este carácter de efeito no entendimento, a razão, em virtude do princípio de causalidade, passa a demonstrar a existência da causa. Porém, a existência da causa não pode ser subordinada do infinito, pelo que é absolutamente necessário liga-lo a uma primeira causa da qual dependem todas as demais. E esta causa primeira é Deus. Logo, Deus existe.
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