Linguagem e liberdade a partir de Herder e Kant - IV
(Herder; Kant)
4. Linguagem e liberdade. Ao longo dos capítulos anteriores, a ideia de liberdade esteve sempre presente, desde a origem da linguagem à sua dimensão ética. Justifica-se, no meu entender, um quarto capítulo com este nome, para enfatizar a questão da liberdade como fundadora quer da humanidade, quer da natureza antes e durante a existência humana sobre a terra, quer do universo ou dos universos.
Não havendo respostas humanas para as questões fundantes e sendo o homem um ser de procura de respostas primeiras, resta-nos a liberdade como força verdadeiramente criadora e destruidora.
No homem, o excesso de liberdade leva ao livre arbítrio, ao abuso de poder das suas próprias capacidades sobre si e sobre a comunidade que o rodeia, racional, animal e vegetal. Mas é só o homem que pode impor limites à liberdade – o homem é livre de se coibir de cometer excessos de liberdade. Não há deus criador e pacificador que nos valha se não formos nós próprios a zelar pelo nosso bem-estar, respeitando a natureza, incluindo-nos a nós na natureza.
A liberdade é uma questão de dignidade. O excesso de liberdade é uma questão de indignidade, é o mal que corrompe a humanidade. Herder diz que a natureza dotou o homem com o “privilégio da liberdade”. Kant diz que não devemos abusar deste privilégio.
Seja o que for ou quem for que nos dotou com o “privilégio da liberdade”, fez com que disso tomássemos consciência, transformando assim ‘liberdade’ em ‘responsabilidade’. A linguagem é liberdade se for verdadeira, mas é abuso de poder se for falsa, dissimulada, enganosa. Portanto, tudo depende de nós e do uso que pretendemos fazer da nossa inteligência.
A liberdade é do foro da imaginação, segundo Leroi-Gourhan: “A liberdade, frágil elemento do edifício humano, fundamenta-se na imaginação, considerada num sentido ilusório e num sentido de libertação, através dos símbolos” ( O gesto e a palavra ), e também segundo Kant, que a considera inevitável na razão: “Pode talvez perdoar-se à imaginação se ela, por vezes, divaga, isto é, se mantém prudentemente nos limites da experiência, porque, pelo menos, ela é animada e fortalecida por um tal ímpeto de liberdade e será sempre mais fácil moderar a sua ousadia do que ajudar o seu cansaço” ( Prolegómenos a toda a metafísica futura ).
Para rematar, diria, como Kant, que a liberdade é uma ideia da razão. Faz parte do homem ser livre e mostrá-lo ao mundo, seja em que linguagem for: por palavras, por gestos, por telepatia, em sonhos bons ou em pesadelos.
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