DINÂMICA DE ECOUNIDADES DE UM FRAGMENTO FLORESTAL
(Pinheiro; L. A. F. V.; Viana; V. M. & Vettorazzi; C. A.)
Fragmentos florestais são mosaicos de ecounidades resultantes de diferentes eventos de perturbação. As ecounidades possuem estrutura, dinâmica e biodiversidade específicas. A dinâmica do mosaico de ecounidades está diretamente relacionada com a auto-sustentabilidade dos fragmentos florestais. A hipótese deste trabalho é que os fragmentos florestais não são auto-sustentáveis. Para tanto, realizou-se um mapeamento do mosaico de ecounidades de um fragmento de floresta mesófila semidecídua com 9,5 ha. O fragmento estudado é característico da região de Piracicaba, localizada no interior do Estado de São Paulo, onde a agricultura intensiva reduziu a cobertura florestal a pequenos fragmentos (a maioria com área em torno de 10 ha) isolados e perturbados. Entretanto estes pequenos fragmentos florestais representam uma grande proporção da cobertura florestal remanescentes, sendo ainda depositários da biodiversidade nestas regiões. Para o mapeamento utilizou-se fotografias aéreas de 1969 na escala 1:8.000 e de 1993 na escala 1:5.000. As fotografias aéreas foram interpretadas analogicamente e os critérios fotointerpretativos derivados de características da estrutura e composição destas ecounidades, obtidas em campo. Buscou-se um sistema de interpretação que identificasse ecounidades cujo manejo, visando a recuperação, fosse suficientemente distinto para justificar o emprego desta tecnologia no planejamento da recuperação. Deste modo foram mapeadas três ecounidades distintas: (i) capoeira baixa interpretada como áreas de baixa freqüência de espécies arbóreas e alta densidade de cipós normalmente formando um manto homogêneo; (ii) capoeira alta interpretada como áreas de dossel descontínuo e árvores com copa reduzida pela ação dos cipós; e (iii) mata madura interpretada como áreas de dossel mais alto, contínuo e diverso. A análise destes mapas em sistema de informação geográfica possibilitou o estudo do comportamento espaço-temporal do mosaico de ecounidades. As análises indicaram que a ecounidade capoeira baixa se manteve estagnada. Apesar do curto espaço de tempo analisado (24 anos) era de se esperar, posto que estas não eram clareiras, recém formadas que parte destas áreas de capoeira baixa evoluísse para ecounidades de maior diversidade e estrutura como capoeiras altas. Ao contrário disto observou-se que parte da capoeira alta existente em 1969 (12%) se degradou, somando-se a capoeira baixa pré-existente. Por outro lado, uma pequena proporção da capoeira alta também evoluiu para mata madura como um demonstrativo da complexidade da dinâmica do mosaico de ecounidades. Finalmente, aproximadamente 50% da área mais conservada (mata madura) regrediu passando a capoeira alta neste mesmo período. Os resultados indicam que este fragmento não é auto-sustentável e está se degradando, aumentando a proporção de ecounidades de baixa diversidade de espécies arbóreas e estrutura (capoeira baixa) e reduzindo a proporção de mata madura. Assumindo um processo equivalente ao ocorrido neste 24 anos de perturbações para os próximos 48 anos, a tendência é de extinção da área de mata madura e a predominância de áreas com capoeira baixa (63% em 2041). Os indícios de não sustentabilidade do fragmento estudado condizem com outros estudos realizados nesta mesma região. Desta forma inciativas visando a recuperação destes fragmentos florestais são urgentes para a conservação da biodiversidade regional. Estas iniciativas devem relevar a heterogeneidade dos fragmentos e complexo histórico de perturbação que em ultima análise está representado no mosaico de ecounidades que por sua vez condiciona a biodiversidade remanescente nos fragmentos florestais. Passando então para uma outra escala de análise os fragmentos passam a ser ilhas de alta biodiversidade potenciais na paisagem. Neste contexto a determinação indireta do estado de conservação dos fragmentos a partir do mapeamento do mosaico de ecounidades pode subsidiar o planejamento de corredores e direcionar esforços relativos a recuperação da paisagem. Somente o acompanhamento da dinêmica destes remanescentes e suas ecounidades será possível aumentar a probabilidade de sucesso nos projetos que busquem a recuperação da cobertura florestal e conservação da biodiversidade em paisagens fragmentadas.
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