Pai contra Mãe
(Machado de Assis)
Joaquim Maria Machado de Assis neste conto discute a Instituição da ESCRAVIDÃO num Brasil Monarquista e autoritário. As conseqüências desta escravidão; descreve com perfeição os instrumentos de tortura dos escravos. Os feitores com seus ofícios e aparelhos representando as instituições sociais. No conto o autor cita as mais variadas utilidades:
“Não cito alguns aparelhos senão por se ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha só três buracos, dous para ver, um para respirar, e era fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício de beber. perdiam a tentação de furtar, porque geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam com que matar a sede, e aí ficavam dous pecados extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras. O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira grossa, com a haste grossa também à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal. Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com pouco era pegado.”.
O Conto cita a figura do Capitão do Mato, elemento utilizado para começar a narrativa. E a personagem de Cândido Neves, jovem Capitão do Mato de ofício, essa é a sua ocupação, caçar o semelhante – os escravos que fugiam. Mas o destino é maravilhoso e o homem rude casa-se com Clara e tem um filho. Começa a ter dificuldades em manter a família e acaba por se ver obrigado, a conselho da tia de Clara a levar o menino para a roda dos enjeitados. No meio do caminho reconhece uma negra fugida anunciada nos jornais da época e sai à caça dela, encontra-a, está grávida, nada interessa para ele só o dinheiro e a entrega a seu dono. Recebe a recompensa, mas a negra perde o filho, aborta devido à violência como foi arrastada ao dono. Ele simplesmente finaliza: “nem todas as crianças vingam”.
“Cândido Neves, -- em família, Candinho,-- é a pessoa a quem se liga a história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não agüentava emprego nem ofício, carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso algum tempo para compor bem, e ainda assim talvez não ganhasse o bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O comércio chamou-lhe a atenção, era carreira boa. Com algum esforço entrou de caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-o na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império, carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos”.
Cândido tinha por volta de seus trinta anos e Clara seus vinte e dois. Era costureira com sua tia Mônica – quem cuidou dela depois que se tornou órfã.Era afeita ao casamento, o problema era rapazes para isso.Tentava o tempo todo, um que passava, outro que parava, ninguém livre para casar. Até que viu seu grande amor.
“O amor traz sobrescritos. Quando a moça viu Cândido Neves, sentiu que era este o possível marido, o marido verdadeiro e único. O encontro deu-se em um baile; tal foi--para lembrar o primeiro ofício do namorado, -- tal foi a página inicial daquele livro, que tinha de sair mal composto e pior brochado. O casamento fez-se onze meses depois, e foi a mais bela festa das relações dos noivos. Amigas de Clara, menos por amizade que por inveja, tentaram arredá-la do passo que ia dar.”.
A vida depois do casamento e da chegada do filho mudou, a fome, os apertos anecessidade de dinheiro. Cândido Neves deixou de ser entalhador, abriu mão de outros serviços, muitos ou piores. Pegar escravos sobrou, não exigia muito dele só exigia força, olho vivo, paciência, coragem e um pedaço de corda. Agora “lia os anúncios, copiava-os, metia-os no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os sinais e os costumes de um escravo fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo, amarrá-lo e levá-lo”.
As dívidas aumentavam e dono da casa cobrava e cobrava devia já três meses de aluguel e o dono vinha pessoalmente cobrar e ameaçá-lo.
“--Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no ferrolho da porta e saindo”.
Sem esperanças de ganhar dinheiro de outra forma usou se4us instintos de Capitão e encontrou a escrava Arminda:
“A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-la, ao contrário. Pediu então que a soltasse pelo amor de Deus”.
Referência Bibliográfica:
ASSIS, Machado. Texto-fonte: PAI CONTRA MÃE. Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II. Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
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