BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


BARBÁRIE
(Érico Hiller)

Publicidade
Ela é paga para cortar. Com maestria, ela corta clitóris de meninas entre 7 e 13 anos. Tudo sob o manto da austeridade e dos bons costumes. Ela é uma excisadora! Há décadas, milhões de mulheres na Ásia e na África sofrem este tipo de mutilação. A cada dia , e repito, a cada dia, seis mil mulheres são mutiladas em todo o mundo. A convite de uma ONG suíça, a Maasai Aid Association ( MAA ), que luta contra a mutilação genital, o fotojornalista Érico Hiller foi ao Quênia conhecer e aprender sobre o problema e, também, associar – se na luta para a erradicação deste ato tão vil. É manhã de sábado. Mulheres alegres, com trajes e adornos coloridos, cumprimentam os estranhos, sorriem e acomodam – se nos bancos de uma igreja improvisada no meio da savana. Elas demonstram curiosidade e vasculham cada centímetro do recinto com os olhos. Uma voz forte faz – se ouvir. É Annie Corsini, 53 anos. Ela apanha um modelo anatômico de vagina, feito com fibra de vidro e o põe sobre a mesa. As moças se encolhem envergonhadas e fecham os olhos. Elas têm vergonha do único homem ali presente, eu! Saio da sala e peço à tradutora que lhes diga que eu vim de longe, do Brasil, e estou ali para aprender junto. Com um globo inflável em mãos, Annie explica que eu sou do Brasil e ela da Suíça. Eu retorno de mansinho e, agora, há silêncio. Girando o globinho, Annie diz que em todos os lugares as mulheres são iguais, excetuando em uma pequena parte do mundo onde elas têm o clitóris mutilado. Os ânimos se alteram. As vítimas começam a defender seus algozes (* Síndrome de Estocolmo?) : "As mulheres não mutiladas não geram filhos homens!" Annie responde: Vejam o Érico! Sua mãe não foi mutilada e ele aí está! Há excisadoras na platéia. Elas bradam na língua massai: “O clitóris cheira mal!”, “Fazemos isso porque somos massai!” “O clitóris deve ser cortado porque é uma miniatura do órgão genital masculino!” “O corte deixa as mulheres mais fortes!”. Uma das moças interrompeu a gritaria com indignação:”Calem a boca e deixem eles falarem!” Essa frase soou musicalmente em meus ouvidos. Inundei – me de esperança: esse trabalho pode, afinal, surtir efeito. As excisadoras possuem prestígio social em suas comunidades e possuem status de parteiras ou de médicos. Elas contam com o respaldo dos líderes das tribos, que têm muito medo de não conseguir casar suas filhas se elas não forem mutiladas. Os homens recusam envolvimento com "não mutiladas" alegando que elas são mais “fogosas” podendo traí – los ou fugir com outros homens. A mutilação, para eles, seria uma forma de controlar a libido feminina. Conversei, juntamente com Annie, com uma excisadora. São dela estas palavras: “Eu faço apenas um pequeno corte, uma coisa mínima, apenas tiro um pequeno órgão e arranco os pequenos lábios, não chega nem a sangrar muito, é tudo muito rápido com a gilete.” Por enquanto, mulheres "não mutiladas" são motivo de chacota e piadas nas escolas ou em outros ambientes que freqüentem. Há homens, poucos, contra a mutilação. Um exemplo é o Pastor Tomas Olé Mpattai. A mutilação não está ligada a nenhuma religião embora seja mais freqüente entre povos muçulmanos. Ela é encarada como uma tradição cultural necessária para preservar a castidade e a honra das mulheres. No Egito há uma campanha forte para acabar de vez com a prática. Dados da MAA mostram que 97% das egípcias entre 15 e 49 anos são mutiladas. * Nota da resumista Para saber mais: 1) “Mutilada” de Khady Koita, escritora senegalesa, já traduzido para o português. 2) www.e-solidarity.org



Resumos Relacionados


- Excisão, O Novo Cinto De Castidade

- Flor Do Deserto

- O Livro Negro Da Condição Das Mulheres

- MutilaÇÃo Genital Feminina

- R$ 5 Mil É O PreÇo De Uma Nova Vagina



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia