Soneto de Fidelidade
(Luís Vaz de Camões)
Soneto de Fidelidade
Amor é fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que um bem querer; É solitário andar por entre a gente; É nunca contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode a seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário de si é o mesmo Amor?
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