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O Aprendiz (parte I)
(Rodriguez)

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Um pequeno rapaz que queria aprender a ser guerreiro vivia numa aldeia desconhecida dos tempos antigos. Eram tempos de acalmia numa era de guerras pela posse de terras, numa terra de tempos longínquos. O aprendiz sempre quis ser um bravo guerreiro, daqueles que escrevem poesia nos campos de batalha, mas era franzino, frágil de braços e de coragem. A sua vontade era indómita todavia. Queria ser um soldado do rei, queria chegar a adulto e enfrentar a vida de punhos cerrados. Chegada a idade da aprendizagem, o rapaz entra na escola de guerreiros, uma espécie de academia interna, onde pequenos moços suportavam uma instrução severa, alargada à escrita, mas de prerrogativa bélica. Aprender a sobreviver, mais do que aprender a sentir, aparentemente, eram os valores que os mestres passavam aos aprendizes. Aquele aprendiz sentia. Sentia medo, sentia ansiedade, sentia a tristeza romântica do sofrimento da ausência. O mestre-tutor era um homem frio e implacável. Olhares fulminantes e fustigadores acariciavam o dia-a-dia daquela criança de uma era sombria. E ela sentia-se adormecida num mundo que não era o seu. O desejo de ser guerreiro esfumava-se em cada admoestação dos instrutores. Admoestações escaldantes e desencorajadoras. Eram tempos de desilusão. O aprendiz não compreendia a estratégia dos mestres. Sentia que cada lição era a repetição da anterior, sentia-se até insultado na sua inteligência e habilidade. Um dos exercícios incomodava-o profundamente. Todos os dias ao nascer do sol tinha que percorrer um trilho de mais de quinze milhas a pé, por entre as casas, depois silvados e charcos, pedras e árvores de troncos revestidos de musgo cansado, até chegar aos confins da aldeia que era uma fortaleza. O aprendiz arrastava-se pelo caminho. Ao fim do primeiro mês de instrução tinha a certeza que o conseguia seguir de olhos vendados, e fê-lo saber ao mestre. As consequências não foram benéficas. No dia seguinte, quando o primeiro raio tímido de sol cruzou a minúscula janela do dormitório, uma sombra atroz despertou o sono do aprendiz. Estranhamente, o rapaz não conseguia abrir os olhos numa aflição que ainda julgou ser um pesadelo. Era a venda, estrategicamente colocada sobre os seus olhos, apertada até não poder mais, impossível de ser retirada por suas mãos. Devia estar pronto para a caminhada matinal. Arrastou-se até à saída do acampamento. Sentia que o caminho era aquele, queria provar ao mestre algoz que estava seguro e conseguia executar a missão. O falhanço aumentou a revolta no peito do aprendiz. Não compreendia o sentido daquele sacrifício diário, o porquê daquela cruel caminhada, por um caminho repetitivo. Haveria decerto outras actividades bem mais úteis e adequadas à prática guerreira, como manusear a espada ou o arco, como a perícia e a elasticidade. Nada disto fazia parte do seu programa de aprendizagem. Caminhar pelo trilho maldito de forma mecânica. O rapaz acabou por se resignar. Era aquele o seu destino. Um dia tomou uma decisão, era inteligente e não podia continuar a encarar aquela missão como se fosse o sumo sacrifício, porque essa seria a sua morte espiritual. Pensou então tentar compreender aquele fardo e daí em diante, a cada dia que caminhava, olhava mais em volta. Apreciava as casas, como eram pesadas nas suas paredes de barro. Olhava os charcos e os peixes que lá caminhavam também. As árvores eram velhas, pareciam querer falar-lhe ao ouvido, lembravam-lhe o seu avô que há muito tinha partido, mas cujas histórias mágicas ele sempre recordava com nostalgia, uma nostalgia sábia. Já conhecia aquela árvore avermelhada da esquina da quinta milha, às vezes até falava com ela, e ela parece que respondia com entusiasmo, porque ficava sempre com os ramos mais espevitados e baloiçantes. (...)



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