Calor global
(Carlos Rossi; Mega Arquivo; Marcelo Gleiser)
Calor global
Desequilíbrio nas correntes entre o Atlântico Norte e o Atlântico Sul fará o Brasil sofrer com furacões e outras tragédias decorrentes do aquecimento do planeta
Furacões devastadores, chuvas torrenciais, frio nos trópicos, secas sem fim, doenças e pestilência espalhando-se pelos campos e cidades, comunidades costeiras inundadas. Parece até que estou lendo uma lista de pragas bíblicas. Mas não é isso, infelizmente. Essas são algumas das conseqüências do aquecimento global, termo usado para descrever o aumento de temperatura causado pelo crescimento do efeito estufa, provocado pelo acúmulo de gases poluentes na atmosfera. Poucas questões são mais urgentes. Nosso futuro, o futuro dos nossos filhos, dependem das decisões que tomaremos agora. Ignorar isso é demonstrar o egoísmo da nossa geração.
Nos últimos anos, algo de trágico ocorreu com relação à questão do aumento de temperatura global. Sabemos hoje que não há dúvida que a temperatura média global está aumentando. A última década foi a mais quente dos últimos 150 anos. Esse aumento de temperatura já está causando mudanças no nosso planeta. Dentre elas, o degelo das calotas polares. O degelo, por sua vez, eleva o nível do mar e causa uma mudança na concentração de sal nos oceanos. As águas do Atlântico Norte, que mantêm as temperaturas relativamente quentes da Europa, irão se resfriar. (É, para nós no Brasil pode parecer frio lá, mas, comparada com a temperatura nas mesmas latitudes na América do Norte, a Europa é relativamente quente.) Existe um equilíbrio entre as correntes do Atlântico Norte e do Atlântico Sul. Esse equilíbrio será rompido, com conseqüências para nós também. Dentre elas, o surgimento de furacões na costa brasileira e outros elementos da lista de pragas acima.
O trágico é o que ocorre com a questão do combate ao aquecimento global. Países como os Estados Unidos e a China, dentre os maiores poluidores do mundo, recusam-se a tomar as providências necessárias para diminuir a quantidade de gases ejetados na atmosfera. A ciência do efeito estufa é essencialmente a mesma que ocorre quando nos cobrimos com mais um cobertor. O calor produzido pelos nossos corpos não escapa, e a temperatura aumenta. No caso da Terra, o calor vem principalmente do Sol. Normalmente, a temperatura na superfície terrestre aumenta, mas o calor é dissipado através da atmosfera para o espaço. Com a poluição, principalmente de gás carbônico, ou CO2, esse resfriamento não ocorre de forma eficiente, e a Terra se aquece. Milhares de cientistas do mundo inteiro, inclusive do Brasil, reuniram-se no Painel Intergovernamental de Mudança Climática (do inglês IPCC, Intergovernamental Panel for Climate Change, www.ipcc.ch), estabelecido pelas Nações Unidas e pela Organização Meteorológica Mundial, para estudar de forma quantitativa a questão climática.
Um painel publicou seu quarto estudo, com conclusões seriíssimas. Com uma margem de 90% de probabilidade, o painel concluiu que o aumento da temperatura global é causado pela ação humana, isto é, pela poluição. Em ciência, esse tipo de probabilidade é muito alta, praticamente certa. Ou seja, cientificamente, é praticamente certo que o efeito estufa seja obra nossa. Infelizmente, e esse é o aspecto trágico, o mundo ainda não se uniu para fazer algo de definitivo para deter o aquecimento global. Grupos de interesse tentam transformar o aquecimento global em uma questão política, sujeita ao debate. Ele, na verdade, é uma tese científica. A política deveria vir depois, para dar sustento às recomendações dos cientistas.O painel concluiu também que, mesmo que medidas sejam tomadas agora, não surtirão efeito por décadas, tal a inércia do fenômeno. Quanto mais esperarmos, piores serão as conseqüências. Precisamos tomar conta da nossa casa. Nossos filhos merecem uma herança melhor.
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