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A Bíblia Cristã e seu Estudo
(Jairo de Lima Alves)

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A Bíblia Cristã e seu Estudo O texto bíblico permaneceu intocável durante muitos séculos. A Igreja vigia a Bíblia como seu principal tesouro e a base de sua autoridade, enquanto insiste no sentido moral e espiritual de sua mensagem, deixando outros aspectos de lado. Mas sempre surge a suspeita: será que a Bíblia é um texto diretamente inspirado por Deus ou redigido por homens e mulheres ao longo dos tempos? O primeiro a tocar com autoridade no assunto foi o filósofo judeu Spinoza, que no seu Tractatus theologico-politicus de 1670, afirma que não consegue detectar nada de propriamente histórico no Pentateuco, por sinal atribuído a Moisés. Ele conclui que Esdras redigiu essa coleção após o retorno das elites judaicas do exílio babilônico no século V aC, portanto sete séculos após a morte de Moisés. O espanto é geral, sobretudo nos ambientes eclesiais, mas, de qualquer modo, com Spinoza nasceu a exegese crítica, que atravessa séculos de luta antes de firmar-se com autoridade no século XX. A força dos exegetas reside no seu conhecimento das línguas em que a Bíblia é transmitida: o hebraico, o grego, o latim. Graças à progressiva introdução da idéia de tolerância em países como a França e a Alemanha no decorrer do século XVIII, os estudos conseguem sobreviver. Voltaire e outros lutaram para que ninguém fosse mais queimado vivo por emitir opiniões contrárias às autoridades. Essa idéia triunfa com a revolução francesa de 1789. Moisés, destronado como autor, resta descobrir as origens dos textos através de uma leitura crítica. No século XIX, a arqueologia vem oportunamente socorrer os estudos literários. Numa empolgação geral nasce a egiptologia, a assiriologia, a epigrafia semita, além de outras ciências que auxiliam em pesquisas. E no século XX os progressos também são grandes, tanto nos estudos dos textos como na arqueologia. Mas os problemas entre a leitura ‘crente’ e a leitura ‘científica’ permanecem até nossos dias. Muitos ainda não ousam tocar nos textos. Hoje pode-se verificar nitidamente como estão as coisas quando se compara o conteúdo das aulas de religião em diversos países. Na maioria dos países católicos, essas aulas ainda seguem os ditames anteriores ao século XVII e se limitam a detectar o sentido moral e doutrinário dos textos bíblicos. Mas em países como a Alemanha, por exemplo, os cursos de religião já são cursos de cultura religiosa. Aí a Bíblia é estudada cientificamente, o que abre perspectivas novas. A história dos hebreus não é mais contada como se fosse uma história sagrada fora do tempo, mas em relação com a documentação histórica que possuímos, não só acerca dos impérios egípcio, babilônico e persa que dominaram Israel durante a história, mas também acerca dos pequenos reinos vizinhos a Canaã. Relacionam-se os mundos hebraico, aramaico e helenista, estuda-se o judaísmo antigo, o Egito dos Faraós, a Mesopotâmia desde os sumérios e até os grandes impérios, a helenização, a partir de Alexandre Magno. O estudante consegue contemplar um horizonte bem mais largo e tem por conseguinte mais facilidade de situar a Bíblia dentro da atual globalização das culturas e das histórias.



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